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Cortina da alma

Um belo dia resolvi que minhas janelas precisavam de cortinas novas, mais leves, coloridas, frescas e bonitas, e essa ideia foi se formando em minha mente e virou um projeto, é claro!


Comecei a imaginar como fazer, tecer, encomendar ou comprar, qual o melhor método e racionalmente fui atrás desses panos. Interessante que quando você procura uma coisa específica e não encontra, mas se estiver de coração aberto, quantas possibilidades se abrem à sua frente!


Testei várias combinações, comprei uma cortina baratinha para ver se minha ideia funcionava, não encontrei o pano no tamanho certo, não encontrei quem fizesse o trabalho aqui na minha cidade, até que decidi viajar para comprar as cortinas prontas de meu sonho...


No dia de correr as ruas para encontrar minhas cortinas meu iliopsoas resolveu travar, sabe aquele músculo que te mantém em pé? Esse mesmo, resolveu que não ia me deixar andar naquele dia, mas ele não sabe com quem estava lidando, fui me arrastando pendurada em meu marido e filho até encontrar a loja certa... Quando finalmente encontrei a cortina na cor, no tecido e no tamanho que eu queria, sinceramente, nem questionei o preço - comprei e fui embora!


Chegando em casa, pronta para um final feliz, novamente a sorte começou a brincar comigo, as cortinas ficaram curtas na altura que o varão estava fixado. Ok mudamos os varões, mas nada é tão simples assim... eram necessários 9 furos nas paredes, a furadeira não estava funcionando direito e meu marido sofreu para conseguir baixar aquele nível de altura, eu não pude ajudar muito nisso, apenas dando apoio moral e torcendo para tudo dar certo dessa vez.


Penduramos a primeira e ficou ótima... uhuuu... penduramos a segunda e ficou comprida... mas como assim!? Se todos os panos são do mesmo tamanho e os varões estavam na mesma altura!?? Olhamos incrédulos um para a cara do outro, parecia que se tinha aberto uma porta para a 5ª dimensão e estávamos numa distorção do espaço, não era possível isso!


Rodamos pela sala tentando entender o que estava acontecendo até que eu tropecei num degrau de desnível entre as salas. É isso!!! Uma sala é mais baixa 10cm que a outra... como não lembramos disso minha Nossa Senhora das Cortinas Curtas, como vamos consertar isso agora?


A solução mais óbvia, é claro, seria mudar as barras dos panos, porém, o que é óbvio na vida nem sempre é o mais fácil de ser percebido e realizado. Fiquei imaginando a mão de obra para desfazer e refazer todas aquelas barras, estou falando aqui de 22metros de tecido fino, mais a mesma metragem de forro, alguém tem ideia do que é isso minha gente?


Bem, resolvemos parar por ali, recuperar as forças e começar a mexer nisso durante a semana.


Fui resgatar minha máquina de costura que já estava abandonada a algum tempo, limpei ela todinha, troquei as linhas, enchi a bobina, marquei a nova dobra da barra e comecei a costurar com coragem e decisão... depois de 50cm de costura já percebi que não ia dar certo... minha máquina é antiga, os pontos não são muito ajustáveis, a agulha era grossa, a linha não era de adequada e a costura começou a engurgunhar e ficou horroroso, desisti na hora antes de estragar minha cortina nova.


Mais uma semana se passou, e eu aqui remoendo sobre o que fazer, até que decidi pendurar as cortinas e ficar olhando para elas até elas me responderem como queriam ficar. Até que hoje elas me responderam...


É claro que não foi a resposta mais fácil que eu esperava ouvir; vou ter de fazer o serviço direito, medir exatamente a altura de cada uma, desfazer a barra pronta, virar o tamanho certo, alinhavar tudo e fazer a bainha a mão, ponto a ponto, com a linha e agulhas adequadas, porque é assim que a vida é... é assim que ela faz você aprender, crescer e mudar. Não é pelo caminho mais fácil, mas sim pelo caminho que tem de ser para você.


Enfim, comecei hoje o trabalho de medição, desmanche, dobra e alinhavo das novas barras, sinto que vou aprender muito durante esse processo, é meio como se eu estivesse a alinhavar minha própria vida aqui, devagar para ficar bonito e bem-feito. Depois o forro pode ser feito à máquina, mas primeiro o pano fino, delicado e esvoaçante deve ser trabalhado com cuidado e carinho... Talvez esse voil delicado e colorido seja minha alma, enquanto a microfibra do forro seja meu corpo.


Se minha alma não estiver feliz, como o corpo poderá sê-lo?





 
 
 

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