O caso do casaco Marsala
- Marta Gaino
- 16 de ago. de 2016
- 7 min de leitura
Ou Como aplicar o gerenciamento de projetos no dia-a-dia ...
Há muito tempo que ando descompassada de mim mesma. Longe da música, do canto, da poesia, deste blog, da pintura, da fotografia e até mesmo de meus queridos projetos ... ando trabalhando, simplesmente trabalhando... a vida continua com ou sem você.
Tantas coisas aconteceram, outras tantas deveriam ter acontecido, e sinto que agora não é mais possível recuperar e registrar tantos fatos e fotos, então seguiremos daqui, depois com calma e tempo comento sobre viagens e outras venturas, aventuras e desventuras que vivi nos últimos tempos.
Por hoje quero falar sobre meu casaco marsala, um desafio que propus ou impus a mim mesma e que acabou por me surpreender, então, primeiro o que vem primeiro: O projeto.
Para realizar um projeto é necessário identificar 10 áreas de conhecimento/gerenciamento a partir do que será possível estruturar, elaborar, planejar, desenvolver, monitorar e controlar o projeto, e finalmente encerrá-lo, porque talvez mais importante do que começar é saber terminar as coisas. Essas áreas são: Integração, Escopo, Tempo, Custos, Qualidade, RH, Comunicações, Riscos, Aquisições e Stakeholders.
Como diria Belchior ... “deixando a profundidade de lado...” por que aqui não é lugar de trabalho, toda vez que nos metemos a fazer alguma coisa ficamos frente a frente com um projeto, e na grande maioria das vezes, sem percebermos estamos fadados ao fracasso simplesmente por que não observamos essas 10 áreas; porque não planejamos, passamos por cima do óbvio, saímos arregaçando as mangas fazendo e resolvendo os pepinos conforme forem aparecendo, até que desistimos, abandonamos ou entregamos alguma coisa meia boca, que sabemos que não era bem aquilo que queríamos, mas foi o que deu pra fazer no momento.
Voltando ao meu casaco marsala, este mês (agosto/16) acontece a formatura de meu filho mais novo André Henrique, que está concluindo o curso de Geologia na UNIPAMPA, Universidade Federal do Pampa.
Pampa, isso mesmo, você entendeu direito ... Pampa, aquele que fica lá no sul do Rio Grande do Sul ... Após cinco anos chegou o grande momento de festejar sua formatura, em agosto, bem lá no meio do inverno gaúcho tchê!
Eu estou muito feliz pela conquista dele e é claro que vamos participar desse momento, eu e Otávio (meu marido, para quem não o conhece). Mas, o dilema de sempre me assola: com que roupa eu vou?
Depois do frio congelante que passei durante aquele curso que fiz na Itália (já contei isso?), prometi para mim mesma que nunca, nunca mais em minha vida, eu iria fazer uma viagem para algum lugar frio. Mas, como é para André, estou abrindo uma exceção com a condição de que eu arrumaria um casaco de lã para me proteger de qualquer vento minuano que ousasse passar por perto de mim. Então decidi fazer um projeto, com todas as técnicas que aprendi no MBA.
Primeiro pensar na integração, que em verdade é o próprio planejamento e como será a execução do projeto. Eu queria um casaco de lã, mas onde eu iria encontrar um em Salvador? Para falar a verdade nem procurei, cai na internet para ver onde eu poderia comprar um.
Imediatamente comecei a pensar em como queria que ele fosse, em seu "escopo": tamanho, cor, modelo, etc.; percebi que o que eu estava pensando/querendo simplesmente não existia, porque ainda estava sendo imaginado em minha cabeça, e decidi na hora que eu iria fazer um!
Sabe esses estalos que dá na gente de vez em quando? Faz tempo que eu não sentia nada estalar dentro de mim, e simplesmente me apaixonei pela ideia de fazer um casaco de inverno, em pleno calor de Salvador, para ir a formatura de meu filho, lá no frio do Rio Grande do Sul, isso virou quase uma missão, e parti para a cruzada.
Quanto tempo eu tenho para costurar o casaco? Quanto vai custar essa brincadeira? Faz tanto tempo que não costuro, será que vai ficar bom? Será que eu arrumo alguém para fazer para mim? Com quem eu converso? E se não der certo? Onde eu vou arrumar a lã? Quem poderia me ajudar? E quanto mais eu pensava a respeito, mais sentia que era uma boa ideia.
Comecei a falar para todo mundo que eu estava costurando um “casaco de inverno para ir na formatura de meu filho lá no sul” ... kkk... O casaco já tinha nome e sobrenome e eu ainda não fazia nem ideia de como ele seria, mas me diverti muito imaginando tudo isso. Primeiro eu consultei minha chefe, colega e uber-elegante, Eugênia. Ela adorou a ideia e me deu referência da loja em São Paulo onde eu devia comprar o tecido. Problema 01 resolvido.
Daí comecei a pensar na logística: ir a São Paulo ou comprar pela internet? Eu precisava ver e tocar o tecido para saber qual comprar, o caimento, a cor, a textura, oh céus quem poderá me ajudar?
Por minha sorte ou coincidência, apesar de eu não acreditar que exista nem sorte nem coincidências, meu filho mais velho Pedro Camilo, iria fazer um treinamento em São Paulo no mês de julho (estávamos em maio) e eu, abusando da prerrogativa de mãe, pedi a ele que fosse na loja, analisasse o tecido e me ligasse para eu decidir se era o que queria. Mandei via whatsapp o nome do tecido, a cor, a metragem, o endereço da loja e fiquei esperando o dia em que ele poderia ir até a 25 de março para comprar o tecido (é claro que era lá, onde você pensou que fosse?)
Pedro me enviou um vídeo onde ele perguntava para o vendedor tudo o que eu havia recomendado, mexeu no tecido para mostrar o caimento, filmou de vários ângulos para mim escolher a cor e ainda conseguiu um pequeno desconto porque a metragem que eu queria não tinha toda em uma peça só. Ele realmente é o melhor comprador a distância que eu conheço!
- Un bacio per te figlio mio.
Escolhi a lã “pelo de camelo” na cor marsala – agora eu já podia imaginar o casaco colorido!
O tempo estava correndo e eu ainda não tinha o modelo definido, até que me dei conta que o modelo não existia, eu tinha que desenhar um com tudo o que havia gostado nos modelos da internet, então peguei a gola de um, as costas do outro, a frente transpassada e os bolsos de vários outros ... e criei o design na cabeça.
Pedi a minha mãe para tirar minhas medidas e ela me emprestou a régua de moldes para desenhar no papel. Briguei com aquela régua até que desisti e peguei um blazer para corrigir as curvas da cava que eu não conseguia acertar de jeito nenhum. Nesse ínterim, Andréia, minha nora, Cecilia, minha sobrinha e Ivana, minha irmã que mora na Argentina, eram minhas consultoras e me ajudaram com suas opiniões a ir ajustando os detalhes ... isso fica legal, isso está meio estranho... kkk... perdi a conta de quantas vezes fiz e desmanchei aquelas costuras.
Enquanto eu estava dedicada a costurar as partes dos moldes, o frio lá do sul estava indo embora e eu fui ficando indignada, porque estava fazendo um calor da gota serena aqui em casa, eu mexendo naquele tecido quente só pensando na festa, e o tempo esquentando lá em Caçapava? Era muito desaforo! Comecei a pensar no gerenciamento do risco, se você não pode evitá-lo tem de se virar para diminuir o estrago, aí só vinha na minha cabeça as próximas férias em que eu poderia ir para o Alaska, por exemplo.
No meio dessas discussões entre mim e o pano, recebemos a visita de Silvana e Marcelo, grandes amigos que estavam voltando de viagem de Belo Horizonte para Natal e fizeram uma parada estratégica aqui em casa. “Santa Nossa Senhora das Costureiras Desesperadas”, Silvana me salvou! Eu já estava a ponto de desistir, mas a providência nos acode quando mais precisamos.
Além de pôr a conversa e a vida em dia, trocamos muitas ideias e ela serviu de modelo para que eu pudesse ajustar algumas partes que estavam meio “tortas” (porque meu manequim de costura é tamanho 44 e eu já passei do 48 faz tempo) kkk...
O tempo correndo, eu me atrasando e o frio indo embora, enfim eram muitas emoções para controlar o cronograma, como em todo projeto que se preze.
A cada etapa eu ia decidindo como seria o modelo, fiz uma prega macho nas costas para evitar que ficasse apertado, montei um transpasse simples para não ficar muito pesado na frente, coloquei uma gola xale para poder abrir ou fechar no pescoço, conforme o frio alaskiano que eu iria enfrentar (será alaskiano, alaskino ou alascado?). Não sabia se ia colocar botões ou se faria um cinto ou faixa, ou deixaria aberto tipo capa, apenas ia decidindo e fazendo meio Scrum (que me perdoem os amantes do Scrum), porque as decisões eram diárias, conforme a situação e dificuldade iam se apresentando.
E hoje, tcham, tcham, tcham, tcham ... Resolvi que terminei o casaco. Resolvi, porque senão ele era capaz de me vencer e ficar “interminável” até o próximo inverno!
Enfim, acabei fazendo um casaco de inverno “haute couture” - sob medida, exclusivo e moldado no corpo, que provavelmente será usado só uma vez na vida, a menos que resolvamos ir realmente ao Alaska em férias. Mas que ficou lindo, ficou!
Para registrar essa façanha/projeto/desafio, ia fotografando (quando me lembrava) para garantir que fui eu mesma quem fez o Cobertor, apelido carinhoso que acabei dando a ele.
Agradeço a todos que direta ou indiretamente participaram desse projeto, meus queridos stakeholders, e agora com licença, que eu vou preparar minha mala porque vamos viajar para Caçapava do Sul/RS para festejar a primeira grande conquista de meu filho caçula André Henrique Gaino.
Nota: Pedro Camilo, meu filho mais velho, já terminou o treinamento em SP e está feliz em seu novo trabalho, também iniciando novos desafios, para quem desejo todo o sucesso do mundo porque ele merece!
Querem conhecer meu Casaco Marsala? Então vejam as fotos...
Beijos quentinhos diretamente de Salvador para o mundo..
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