Um baiano nos pampas
- Marta Gaino
- 1 de mar. de 2011
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de mai. de 2020
09/02/2011
André Henrique foi aprovado no curso de geofísica na UNIPAMPA, a Universidade Federal do Pampa/RS, mas preferiu trocar por Geologia, e vai estudar lá no sul do Brasil. Várias situações, aventuras e desventuras levaram ele a tomar essa decisão, e nós o apoiamos e “vamo que vamo”, seja o que Deus quiser, porque não é fácil para o coração aceitar a distância tão fácil assim.
Isso por si só foi um rebuliço em casa, tanto pela alegria, quanto pela preocupação com a estadia dele tão longe de casa, mas enfim, concluímos que essa era uma oportunidade que devia ser aproveitada e estamos encarando com certa tranquilidade e confiança que tudo vai dar certo: o curso e a vida.
Adivinha onde estou neste exato momento 08/02/2011, 23:10h horário local... Nos pampas gaúchos... Aproveitamos que era necessário vir fazer a matrícula e vim junto para agilizar e me certificar de que conseguiria um local adequado para moradia. Saímos Salvador às 08:30h, almoçamos em Viracopos, decolamos para Porto Alegre no começo da tarde, ficamos horas esperando na rodoviária aguardando o horário do ônibus para o campus na cidade de Caçapava do Sul, 260Km de distância da capital gaúcha. Chegamos no hotel às 23:30h. Viajamos o dia inteiro, estamos moídos, mas chegamos!
O dia amanheceu encoberto por uma neblina que só se dissipou lá pelas 10:00h da manhã com chuva intermitente e fria. Pelo jeito isso é comum por aqui. Fomos à faculdade, resolvemos a matrícula e encontramos outros meninos na mesma situação à procura de casa.
Todos os estudantes estavam com o olhar brilhando de alegria por terem conseguido chegar até aqui. Alegria, orgulho, mas também apreensivos com aquela dúvida de “o que será agora?” No hotel em que estava com André, na hora do café, percebi que os meninos que vieram sozinhos estavam simplesmente perdidos no meio da burocracia e da expectativa de como resolver onde ficar e tudo o mais que precisava ser resolvido em apenas uma semana antes de começar as aulas. Nunca me achei uma mãe super protetora, mas nesse momento meu sentimento era de abraçar todos, meu filho e os filhos dos outros, e não deixar que nada nem ninguém os machucassem. É claro que me meti e chamei alguns meninos para sentar na mesa com a gente! Kkk...
Desse grupo apenas um outro pai estava acompanhando o filho e veio com o mesmo pensamento que eu, então nos pusemos a procurar um lugar para instalar a república para os cinco garotos, com a intenção de deixar a situação já resolvida antes de voltarmos para casa.
Conseguimos um apartamento legal para acomodar os meninos e parece que eles conseguiram estabelecer um vínculo legal entre si, em função dos cursos e das expectativas e ansiedade de todos. Fiz o contrato de aluguel em meu nome, peguei os contatos de todos os pais presentes e ausentes, entrei em contato e começamos a nos conhecer para podermos ajeitar do melhor modo possível todos os planos das famílias, nessa hora dei valor para meu curso de assistente social, nada como um pouco de organização, psicologia e discernimento para equacionar os problemas de cinco famílias que estavam se unindo de repente pelo sonhos de seus filhos.
Durante a semana enquanto esperava o contrato de aluguel ficar pronto nos dedicamos a conhecer a cidade, o comércio, o hospital, como fazer para contratar água e luz, internet, etc. Eles tiveram um curso compulsório rápido de “gestão e responsabilidade” (ministrado por mim é claro, kkk) para poderem assumir os compromissos e dividir os custos, e pronto, nos preparamos para voltar para casa e arrumar as malas.
23/02/2011
No fim do mês André voltou para Caçapava para terminar os procedimentos na faculdade, eu e Otávio seguimos uma semana depois para ajudar nas compras e instalar todas as coisas.. Durante esses quinze dias conversei com as outras mães sobre como faríamos para montar a casa e conseguimos nos organizar com uma grande lista de móveis, eletrodomésticos e utensílios, tudo para ser comprado nessa semana em que eu estaria lá na cidade. Por sorte duas famílias também iriam e daí conseguimos resolver tudo rapidamente. Tudo, foi preciso comprar exatamente tudo, dois pais, duas mães e cinco filhos correndo todo o comércio da cidade pesquisando e pechinchando preços e prazos de entrega para deixar a casa funcional em apenas uma semana. Me arvorei a fazer uma apostila para "donos de casa de primeira viagem" com dicas que iam desde como cozinhar feijão até quanto sabão colocar na máquina de lavar, além de "o que fazer no caso de febre e curativos para pequenos cortes", etc... e todo arsenal de "eu avisei" que pude escrever para eles, kkk...
Caçapava do Sul é uma pequena cidade do interior do RS que não estava acostumada com o movimento de estudantes universitários; a UNIPAMPA está a poucos anos na cidade e ampliou os cursos neste ano por causa do ENEM, então além do volume de alunos e novas famílias que se mudaram para cá, está acontecendo um grande impacto social e percebi que, preconceitos à parte, os nativos se sentiram invadidos em suas vidas diárias.
Os alunos vieram de todos os estados do Brasil, do norte e nordeste, oeste e sudeste, e foi praticamente uma invasão de jovens sozinhos, com suas culturas e costumes diferentes, e sem famílias para apoiá-los nesse início de vida universitária. Não foi um aumento gradativo da população estudantil, foi uma avalanche que com certeza vai abalar as estruturas sociais dessa cidade neste ano! De nossa parte, vamos ajudá-los a se instalarem e eu vou agarrar André e abraçá-lo muito para abastecer o meu coração nos dias de saudades, e a vida continua!
01/03/2011
Tudo bem lá no sul...Os meninos já estão instalados; a casa já está funcional; o aluguel já está correndo; as aulas já começaram, e as saudades já chegaram ao meu coração...
Alguém sabe quantos dias faltam para as férias do meio do ano?
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