Metades
- Marta Gaino
- 11 de nov. de 2011
- 2 min de leitura
Há um bom tempo atrás, na época em que eu andava inspirada e escrevia muito, escrevi uma poesia que tentava traduzir meus sentimentos sobre a sensação de viver dividida, em partes, sempre em busca da metade que me faltava.
Gosto muito dessa poesia porque ainda hoje ela aguarda respostas, portanto ainda faz parte de mim.
Ontem recebi um poema de Ferreira Gullar e fiquei com a sensação de que o sentimento e o pensamento do poeta responde algumas questões, então resolvi colocar as duas poesias juntas, quem sabe elas não conversam entre si?
Metade
Ferreira Gullar
Que a força do medo que eu tenho, não me impeça de ver o que anseio. Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca. Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio…
Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que triste… Que a mulher que eu amo seja para sempre amada mesmo que distante. Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos. Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço. E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada. Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável. Que o espelho reflita em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância. Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito. E que o teu silêncio me fale cada vez mais. Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba. E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer. Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor, e a outra metade… também!
Nossas metades
Marta Gaino
Como fazer amor se ele ja nasce pronto, sem precisar de retoque.
Se nasce no olhar junto com o desejo de se aproximar, do toque.
De estar junto, preenchendo os vazios da alma que caminha sozinha,
Perdida em si mesma à procura de sua metade separada desde o paraíso.
Que paraíso é esse que encontramos vezes seguidas em nossa vida,
O qual não reconhecemos e onde não sentimos a presença de quem nos completa,
Até que já tenha partido, absorto em sua procura,
Sem ter nos encontrado também…
Voltar a viver no paraíso ao lado dos anjos que entendemos como nossos
Na busca da felicidade, à procura do amor que já nasce feito,
E nos aguarda na união dos corpos que se entregam com paixão
Completando o que foi dividido desde o inicio dos tempos, na criação do amor.

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